Perdas de água potável seriam suficientes para abastecer 30% da população brasileira por um ano
O saneamento básico é considerado uma das infraestruturas mais atrasadas do Brasil e enfrenta dificuldades diversas e que vão além da expansão das redes de água e esgotos. Há problemas graves de eficiência no setor, que comprometem a qualidade dos serviços para o cidadão e a própria sustentabilidade financeira dos operadores. Um dos desafios diz respeito a perdas de água potável, que seriam suficientes para abastecer um terço da população brasileira durante um ano. Esse gargalo exige medidas de gestão para enfrentar e mitigar vazamentos, furtos, erros de leitura do hidrômetro, entre outros fatores, que causaram um prejuízo acima de R$ 11 bilhões em 2017.
É o que revela o estudo “Perdas de Água 2019 (SNIS 2017) – Desafios para disponibilidade hídrica e avanço da eficiência do saneamento básico”, feito pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados, e lançado em junho de 2019. Com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ano base 2017, o estudo mostra que a média de perda de água potável no país foi de 38,3%, ou seja, para cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 38 litros ficam pelo caminho devido aos vazamentos, erros de leitura dos hidrômetros, furtos (famoso “gato”), entre outros problemas.
Isso significou uma perda de 6,5 bilhões de m³ – equivalente a mais de 7 mil piscinas olímpicas por dia. Se considerarmos apenas as perdas físicas (estimadas em 3,5 bilhões de m³), ou seja, vazamentos – a água que realmente não chegou na casa das pessoas – o volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 30% da população brasileira por um ano (60 milhões de pessoas). Em termos financeiros, a perda de faturamento custou para o país R$ 11,3 bilhões, valor superior ao total de recursos investidos em água e esgotos no Brasil em 2017 (R$ 11 bilhões).
O pesquisador do Instituto Trata Brasil e da GO Associados, Pedro Scazufca, comenta que o nível de desperdício de água no Brasil, de 38%, está muito acima de países que são mais desenvolvidos e mais eficientes na distribuição de água, como Japão, Dinamarca e Israel, onde esse índice fica abaixo de 10%. O resultado disso é um prejuízo financeiro para toda a sociedade e que, em 2017, ultrapassou o valor dos gastos com saneamento. “Em relação ao que a sociedade pode fazer para combater esse problema, em primeiro lugar eu destacaria a responsabilidade dos municípios, que são os titulares dos serviços e eles devem estabelecer planos de saneamento que tenham metas claras para redução das perdas. Uma vez estabelecidas essas metas, fiscalizar para que sejam cumpridas. Do ponto de vista da sociedade civil, também participar ativamente de maneira consciente para a redução dessas perdas. De um lado, ajudando a reduzir essas fraudes, chamadas de gato hidráulico – intervenção no sistema de abastecimento em que algumas situações é roubada água da rede – e também fiscalizar os vazamentos e exigir dos municípios que se tenha uma perda menor de água na distribuição”, comenta.
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