F

Notícias de Última Hora

Pandemia fez cobertura vacinal no Brasil retroceder, aponta Unicef

 


Nas vésperas da Semana Mundial de Imunização, celebrada entre 24 a 30 de abril, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) aponta que cerca de 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose contra a poliomielite e a tríplice bacteriana (DTP) no Brasil. Os dados são de 2019 a 2021 e fazem parte do relatório Situação Mundial da Infância 2023: Para cada criança, divulgado na quinta-feira (20). O levantamento foi realizado em 112 países.

O Brasil representa 40% das crianças sem nenhuma dose da vacina DTP na América Latina. Esse imunizante protege contra a difteria, tétano e coqueluche, e são necessárias três doses para a imunização. Ainda segundo o relatório, a baixa cobertura vacinal é mais presente em famílias em vulnerabilidade social, pois um em cada cinco crianças não recebeu nenhuma dose, enquanto que entre os mais ricos o índice é de um em cada 20.

O relatório também aponta que, entre 55 países, 52 deles tiveram queda na percepção sobre a importância da vacinação. Embora o índice do Brasil continue alto, o país caiu dez pontos percentuais no nível de confiabilidade, passando de 99% antes da pandemia a 89% pós período pandêmico. Para Cristina Albuquerque, chefe de Saúde do Unicef no Brasil, houve falhas na comunicação e nas ações estratégicas durante a pandemia, o que fez com que as famílias ficassem confusas sobre as vacinas.

“Nenhuma criança estará a salvo enquanto todas ainda não estiverem protegidas”, ressaltou Cristina. De acordo com a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, essa queda de confiança é vista como negativa no Ministério da Saúde e a pasta busca reverter o quadro. “Esse ano é de recuperação, mas esse trabalho será árduo e longo”, frisou Ethel.

Ações

Para ampliar a cobertura vacinal das crianças e retomar a confiança da sociedade nas vacinas, o representante do Unicef no Brasil, Youssouf Abdel-Jelil, elencou quatro ações fundamentais: busca ativa de não imunizados e crianças com doses atrasadas; fortalecer o sistema de saúde e valorização dos profissionais; financiar serviços de imunização e priorizar a atenção primária de saúde; aprimorar a comunicação. “Nosso desafio é retomar a imunização infantil, especialmente nas comunidades afastadas, como indígenas, ribeirinhos e periferias”, disse.

“Essas crianças foram deixadas para trás, ficando desprotegidas de doenças sérias e evitáveis. As crianças nascidas pouco antes ou durante a pandemia agora estão ultrapassando a idade em que normalmente seriam vacinadas, ressaltando a necessidade de uma ação urgente para alcançar aquelas que perderam as vacinas e prevenir surtos e a volta de doenças já erradicadas no Brasil, como a pólio”, explicou Youssouf Abdel-Jelil.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, lembrou que o Brasil já foi referência na vacinação, chegando a cerca de 96% de adesão contra a pólio. No entanto, os retrocessos exigem um compromisso do governo e ações diferenciadas para atender as demandas de um país desigual. “Nossas crianças e jovens devem ser protegidos e só conseguiremos fazer isso com união, trabalho baseado em ciência e diálogo com a sociedade”, pontuou a ministra.

Acerca da queda da percepção da importância da vacinação no Brasil, a chefe de Saúde do Unicef, Cristina Albuquerque, frisa que isso pode ser explicado não apenas pela desconfiança da população, mas também por fatores socioeconômicos, como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. A especialista ainda reforçou sobre a necessidade do envolvimento de diversos profissionais, como professores e assistentes sociais, para enfrentar a desconfiança nas vacinas. “É importante manter uma escuta ativa nos territórios, para entender quais são os medos e dúvidas”, afirma.

O infectologista Éder Gatti, diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, também comentou sobre a postura de alguns médicos que incentivam a desconfiança da população. Segundo ele, há inércia do Conselho Federal de Medicina (CFM). “Esperamos que o Conselho reveja sua postura. Esperamos retomar o diálogo”, diz.

Nenhum comentário